domingo, 8 de setembro de 2013

Disciplina - Memória e Patrimônio



                        A situação precária de grande parte dos casarões tombados no Estado pode ser verificada no Centro de Florianópolis, que abriga nada menos do que 400 dos 600 imóveis preservados na Capital.
            O Serviço de Patrimônio Histórico, Artístico e Natural (Sephan) não tem catalogado o número total de imóveis tombados que seguem abandonados. Sabe-se que as igrejas são preservadas como bens históricos desde 1975.  
            A ação de tombamento somente é aplicada a bens materiais que sejam de interesse para a preservação da memória coletiva. (IPHAN, 2005).
            O tombamento é a primeira ação a ser tomada para a preservação dos bens culturais na medida que impede legalmente a sua destruição.           Porém a preservação somente torna-se visível para todos quando um bem cultural encontra-se em bom estado de conservação, propiciando sua plena utilização.
            Os bens imóveis dizem respeito às edificações: casas de moradia, palácios, palacetes, igrejas e construções militares.
            O Patrimônio Arquitetônico, também chamado de Patrimônio Edificado, diz respeito como o próprio nome sugere as edificações que adquiriram significação histórica e cultural em determinada sociedade. A sua preservação sempre ocorre no sentido de selecionar os exemplares mais expressivos, preciosos e representativos de determinado estilo arquitetônico.
O Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município/ SEPHAN
define o centro histórico de Florianópolis como sendo a região onde historicamente se presume que a cidade nasceu, ou seja, o seu núcleo histórico de fundação.
            Essa região corresponde atualmente às quadras imediatamente adjacentes a Praça XV de Novembro e a toda extensão da rua Conselheiro Mafra até o limite formado pela rua Pedro Ivo.

Configuração urbana inicial da região central de Florianópolis no inicio do século
XIX. A forma se mantém nos dias atuais



            Em 1993 teve início uma campanha de revalorização do patrimônio de
Florianópolis, a qual foi nomeada de Projeto Renovar, cujo objetivo principal é a inserção do patrimônio preservado no cotidiano da cidade e a sua valorização como parte da identidade local.

            Como complementação ao Projeto Renovar, a prefeitura vem desenvolvendo o Programa de Despoluição Visual, que tem como finalidade limitar e disciplinar a comunicação visual dos estabelecimentos comerciais da área central.
            Este projeto vem sendo desenvolvido desde 1999 junto ao centro histórico, ocorrendo paralelamente às intervenções pontuais de recuperação do casario e da ambiência urbana, resultando numa significativa transformação e revitalização do espaço urbano central.

 
Casario da rua Francisco Tolentino no final da década de 80

Casario da rua Francisco Tolentino após intervenção do Projeto Renovar.

           
            Em 30 de novembro de 1937 foi criado, através do Decreto-lei nº 25, o
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/ SPHAN que regulamentou o instituto do tombamento, que funcionava desde 1936 em caráter provisório.
           
            Os primeiros bens tombados em Florianópolis pelo SPHAN em 1938 foram as fortalezas que faziam parte do sistema defensivo da Ilha de Santa Catarina.
            Apesar do tombamento as fortalezas ficaram entregues à própria sorte até a década de 90, quando teve início o processo de estudo e restauração das mesmas.
            As fortalezas tombadas foram: Fortaleza Santo Antonio de Ratones (24/05/1938); Fortaleza de São José da Ponta Grossa (24/05/1938) e Forte de Santana (24/05/1938).

            Foram tombados pelo Decreto nº 270/86 (promulgado em 1989), 340 edificações, destes 250 localizadas na área central.

            As edificações também foram classificadas em três categorias de
tombamento conforme a sua relevância histórica e arquitetônica.
            Mais tarde o Plano Diretor de 1997 ampliou o conceito inicial e as categorias ficaram assim definidas:
            Categoria P1 – Imóvel a ser totalmente conservado ou restaurado tanto interna como externamente.
Prédio da Alfândega, rua Francisco Tolentino. Conjunto I, nível de tombamento P1
            Categoria P2 – Imóvel partícipe de conjunto arquitetônico cujo interesse histórico está em ser pertencente a esse conjunto, devendo seu exterior ser totalmente conservado ou restaurado, mas podendo haver remanejamento interno desde que sua volumetria e acabamento externo não sejam afetados.

 Rua Anita Garibaldi. Imóvel categoria P2 (lado esquerdo) e P3 (lado direito).

            Categoria P3 – Imóvel adjacente à edificação ou conjunto arquitetônico de interesse histórico podendo ser demolido, mas ficando a reedificação ou edificação sujeita a restrições a serem definidas em legislação complementar.

            A cidade de Florianópolis vem gradativamente consolidando o processo de preservação de suas edificações históricas, procurando manter uma estreita relação com seus proprietários e com os cidadãos engajados na recuperação da memória urbana da cidade.
            A preservação deste patrimônio edificado é condição fundamental
para a guarda da identidade cultural local, pois lhe confere característica e
personalidade própria. Porém a preservação de um bem só tem sentido se puder ser vinculado a um contexto, e se as edificações puderem ser a expressão da dinâmica da cidade ao longo de sua história. (IPUF, 2005).

            As Áreas de Preservação cultural ficaram assim classificadas:
1. Antiga Inspetoria de Rios e Portos
2. Largo e Igreja São Sebastião
3. Residência do historiador Oswaldo Rodrigues Cabral - localizada na rua Esteves Junior, a residência foi tombada em 1989 por iniciativa dos proprietários.
4.Teatro Álvaro de Carvalho, Residência Nereu Ramos e Teatro da Ubro
5.Residência Hercílio Luz: a edificação mais expressiva deste grupo é a antiga residência do governador Hercílio Luz que esta localizada próxima à Avenida Mauro Ramos.
6.Rua Bocaiúva: esta APC possui poucos exemplares de edificações históricas, sendo que nenhum deles é tombado. A maioria é ocupada por atividades de comércio o que acaba ocasionando o bom estado de suas fachadas. Por outro lado, dois locais que estavam assinalados como áreas de preservação são hoje ocupados por estacionamentos, resultado direto da lentidão na aplicação das leis de preservação.

            O conjunto formado pelas 423 edificações tombadas do centro histórico é ao mesmo tempo homogêneo e heterogêneo. Homogêneo porque apesar de distantes entre si as edificações que fazem parte dos 10 Conjuntos e das APC´s formam um mapa da evolução arquitetônica e urbana da cidade de Florianópolis.
            Num mesmo Conjunto podemos encontrar edificações muito bem conservadas ao lado de outras em ruína.
            A manutenção destas edificações está assegurada por Lei, mas isso não garante a sua manutenção no tempo e no espaço sempre mutante da cidade.
            É sempre bom lembrar que o tombamento oficial de uma edificação nem sempre é garantia de sua preservação.

            Decreto Municipal nº 270, de 30 de dezembro de 1886, em que foram tombados 10 conjuntos urbanos na área central que corriam maior perigo de desaparecimento, representando aproximadamente 330 unidades presentes no Centro da Cidade.
1. CONJUNTO I – Centro Histórico
É o núcleo inicial da antiga Vila de Nossa Senhora do Desterro, que se ergueu segundo os moldes expressos nas ordenações portuguesas de 1747, e cujos traços sobrevivem até hoje.
Em torno da praça foram erguidas a primeira capela (hoje substituída pela Catedral Metropolitana), as primeiras edificações oficiais (Casa da Câmara e Cadeia, Palácio do Governo), e as primeiras moradas de alvenaria. Inicialmente a povoação se estendeu à leste da praça, e posteriormente à oeste, ocupando as áreas mais baixas, limitadas pelo mar e pelas colinas. Posteriormente foram surgindo os primeiros caminhos, em função da necessidade de ligação com as fortificações, construídas no séc. XVIII para defesa da povoação, formando assim os embriões dos futuros bairros.
2. CONJUNTO II - Hospital de CaridadeEste conjunto é representado principalmente Este conjunto é representado principalmente pelo Hospital de Caridade e Capela do Menino Deus e a Rua Menino Deus, antigo caminho de ligação ao sul da Ilha. A preservação desta rua, que dá acesso ao Hospital, é fundamental para a valorização de um dos mais importantes referenciais da paisagem urbana. Esta rua possui uma ocupação típica do período colonial, com lotes estreitos e profundos, além de edificações geminadas, que testemunham o período colonial na arquitetura.
3. CONJUNTO III – Bairro do Mato Grosso
O caminho de acesso ao Forte São Luiz, existente desde o séc. XVIII, inicialmente era ocupado por chácaras residenciais das camadas mais abastadas da população. No fim do séc. passado iniciou-se o desmembramento destas glebas, que aos poucos foram sendo loteadas, constituindo-se em novas áreas residenciais, e dando origem ao Bairro do Mato Grosso. Tem como principal referencial urbano a Praça Getúlio Vargas (antigo Largo Municipal). A importância deste conjunto está evidenciada pela presença de edificações de vários estilos da arquitetura.
4. CONJUNTO IV – Bairro da Tronqueira
Este conjunto ainda guarda os vestígios mais antigos da ocupação da cidade. A Rua Gen. Bittencourt, antigamente conhecida como Rua da Tronqueira, recebeu seu nome em 1874, e era um dos importantes eixos de ligação com o norte da Ilha. Apresenta edificações antigas, representativas de vários períodos da evolução urbana e da arquitetura da cidade.
5.CONJUNTO V - Rua General Bittencourt
Este conjunto também é de ocupação bastante antiga, e ainda hoje apresenta edificações antigas, representativas dos vários períodos da evolução urbana da cidade. As edificações típicas do período colonial, embora esparsas, ainda evidenciam o antigo caminho de acesso ao norte da Ilha
6.CONJUNTO VI – Rua Hermann Blumenau
Este conjunto possui ainda o casario remanescente da arquitetura eclética do início do século, com lotes pequenos e estreitos. A Rua Hermann Blumenau chamava-se Rua Uruguai, até 1931. Era a antiga ligação do Vale das Olarias (região da atual Av. Mauro Ramos) ao antigo Largo Municipal (atual Praça Getúlio Vargas). Caracteriza-se pela horizontalidade, e pela semelhança entre as edificações, além da estreita dimensão dos lotes, que inviabilizam uma ocupação mais densa.
7. CONJUNTO VII – Nossa Senhora do Rosário
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, construída no séc. XVIII, é o principal elemento deste conjunto, e uma das mais antigas da cidade.
Situada no alto de uma escadaria, voltada para a Baía Sul, a Igreja, juntamente com a Rua Trajano, forma um eixo visual de grande importância.
8. CONJUNTO VIII – Praia de Fora
Foi na Praia de Fora (atual Beira Mar Norte), que Dias Velho, fundador da póvoa de Nossa Senhora do Desterro, aportou no séc. XVII. Nesta orla foram construídas duas fortificações (Forte de São Francisco Xavier e Forte de São Luiz), e a ligação entre ambas era feita pela Rua da Praia de Fora. Durante muitos anos foi o local onde as famílias mais abastadas possuíam chácaras
9. CONJUNTO IX – Rua do Passeio
Conhecida no séc. passado como Rua do Passeio e Rua Formosa, servia de ligação entre o centro da cidade e o antigo Forte de São Francisco Xavier, localizado na Praia de Fora, e se caracterizava pela presença de chácaras, com imponentes residências. Conserva ainda hoje as estreitas dimensões da malha viária original, e é um dos poucos locais que permitem a vista do mar emoldurada por palmeiras imperiais e exemplares do casario tradicional.
10. CONJUNTO X – Rita Maria
Nesta área situava-se o antigo cais Rita Maria, a zona portuária da cidade, onde, além dos diversos armazéns e fábricas, formou-se uma pequena vila operária, formada por casas geminadas, originalmente idênticas e que constituíam as moradias dos operários. Mesmo com a implantação do aterro da Baía Sul, as características urbanas da área se mantêm.
Fontes:

INSTITUTO DE PLANEJAMENTO URBANO DE FLORIANÓPOLIS/ IPUF. Mapa Físico-Político. Florianópolis: IPUF, 2000.

PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS. Planta de Quadra. Florianópolis: IPUF, fev. 2003.

ADAMS, Betina M. Preservação Urbana: gestão e resgate de uma história.
Florianópolis: Editora da UFSC, 2002

CORRÊA, Carlos Humberto P. História de Florianópolis – Ilustrada. Florianópolis: Insular, 2004

INSTITUTO DE PLANEJAMENTO URBANO DE FLORIANÓPOLIS/ IPUF. IPUF.Disponível em: www.ipuf.sc.gov.br .


Nenhum comentário:

Postar um comentário